Rebelião em presídio do Rio Grande do Norte deixa ao menos 27 mortos - AgoraNews.com.br
 
 
 
16 de Abril de 2024 -
 
16/01/2017 - 07h00
Rebelião em presídio do Rio Grande do Norte deixa ao menos 27 mortos
Autoridades locais não confirmam relação com os massacres de Amazonas e Roraima
Rodolfo Borges
Brasil.ELPAIS/O Globo
Autoridades recolhem corpos na Penitenciária de Alcaçuz após a rebelião. ANDRESSA ANHOLETE AFP

A crise nos presídios brasileiros ganhou mais um trágico capítulo neste fim de semana. Após os grandes massacres com dezenas de mortos em Amazonas e Roraima, uma rebelião na Penitenciária de Alcaçuz, na região metropolitana de Natal (RN), somou 27 óbitos ao número de vítimas da barbárie carcerária que concentra as atenções do país desde o início do ano. Os relatos dão conta de que, a exemplo do que ocorreu nos presídios de Anísio Jobim, em Manaus, e Monte Cristo, em Roraima, o confronto entre detentos deixou corpos decapitados e mutilados.

Mesmo antes de saber o que encontrariam dentro do presídio, as autoridades locais alugaram um caminhão frigorífico para abrigar os corpos das vítimas. O desenrolar da crise penitenciária, que é alimentada pelo confronto entre três facções, leva a crer que o motim iniciado no sábado e controlado apenas na manhã deste domingo dá sequência à série de vinganças desencadeadas desde que 56 presidiários foram executados no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), no dia 2 de janeiro. Naquela ocasião, a maioria dos mortos pertencia ao Primeiro Comando da Capital (PCC).

Quatro dias depois, 31 detentos teriam o mesmo destino fatal na penitenciária Agrícola de Monte Cristo â€” desta vez, a maioria dos mortos estava ligada à Família do Norte e ao Comando Vermelho. As mortes deste fim de semana marcariam, portanto, o troco contra o PCC. Mas as autoridades não fazem essa conexão. "Não há confirmação de relação, mas com certeza as rebeliões naqueles presídios incentivaram o que aconteceu aqui", disse o secretário de Justiça e Cidadania do Rio Grande do Norte, Wallber Virgolino, em entrevista coletiva.

Policiais do choque entrando no presídio - Foto: Folha

O Governo do Rio Grande do Norte identificou pelo menos seis líderes da rebelião no presídio, que durou cerca de 14 horas e ainda deixou nove detentos feridos gravemente. De acordo com as autoridades locais, o Governo vai pedir a transferências dos líderes para presídios federais. Outros detentos seriam transferidos ainda neste domingo para outras unidades prisionais do estado.

O presidente Michel Temer disse, por meio das redes sociais, que acompanha a situação da rebelião no Rio Grande do Norte e informou que determinou ao ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que "prestasse todo o auxílio necessário ao Governo do Estado". Moraes tem reunião marcada para a próxima terça-feira com todos os secretários estaduais de segurança do país para tratar da crise prisional. Após mais um massacre de grande repercussão — o número de mortes nos presídios brasileiros neste ano já ultrapassa a centena — a reunião ganha ainda mais relevância.

Na esteira de mais um massacre, o Governo de Alagoas resolveu transferir 600 detentos de unidade prisional neste domingo. Segundo as autoridades locais, teria sido identificada uma "anormalidade" por meio de um trabalho de inteligência. A segurança também foi reforçada nas três unidades prisionais em questão e as visitas de familiares foram suspensas. Do total de transferidos, 500 foram conduzidos para a nova penitenciária de segurança máxima de Alagoas.

MORTOS ERAM DA MESMA FACÇÃO

Segundo Virgolino, a segurança em Alcaçuz é "muito frágil" e o policiamento foi reforçado para que não haja fugas da unidade. O secretário também confirmou que todos os mortos eram integrantes da facção criminosa Sindicato do RN, rival do Primeiro Comando da Capital (PCC). Porém, ele não confirma que as mortes tenham sido uma retaliação ao massacre ocorrido em presídio de Manaus, onde 56 presos do PCC foram mortos por facção local, a Família do Norte.

Pela manhã, Virgolino disse que foram identificados seis presos que comandaram a rebelião. Eles serão transferidos, afirmou. À noite, a Polícia Civil informou que seis presos prestarão depoimento a uma comissão especiais de delegados na Divisão de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).

Caminhão frigorífico que fará o transporte dos corpos da penitenciária de Alcaçuz
para a perícia - Foto: Aura Mazda

Equipes de delegados da DHPP e 15 homens fizeram a perícia nos locais dos crimes. A Polícia Militar continua com o patrulhamento externo, com o helicóptero Potiguar 01, com o Batalhão de Choque e Batalhão de Operações Especiais (BOPE) fazendo a contenção e recontagem dos presos e na intensificação do trabalho nas guaritas da unidade. De acordo com o secretário da Secretaria de Estado de Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed), Caio Bezerra, foi pedida ajuda ao Governo Federal para que o efetivo da Força Nacional no Rio Grande do Norte aumente, atualmente 60 oficias da estão no RN.

Policiais na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, na região metropolitana de Natal, após a
rebelião - Foto: Divulgação.

REBELIÃO CONTROLADA APÓS 14 HORAS

A rebelião foi controlada após pouco mais de 14 horas. Os detentos iniciaram o motim às 17h de sábado (horário local, 18h em Brasília) e se renderam depois que a Tropa de Choque da Polícia Militar entrou nos pavilhões, na manhã de domingo. Segundo a secretaria de Segurança, não houve troca de tiros.

De acordo com Virgolino, os presos cortaram fios de eletricidade da penitenciária no início da rebelião. A unidade ficou sem energia e os bloqueadores de sinal de celular pararam de funcionar. Os equipamentos funcionavam desde o início de dezembro de 2016. Com o fim do bloqueio, os detentos puderam compartilhar vídeos do massacre de dentro da unidade. Eles também entraram em contato com as famílias. Pela manhã, o secretário disse que um preso conseguiu fugir, mas foi recapturado.

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